No preâmbulo do livro "O QUE É O ESPIRITISMO", Allan Kardec definiu o Espiritismo como sendo:
"uma ciência que trata da natureza, da origem e da destinação dos Espíritos, e das suas relações com o mundo corporal" (Kardec [8])
E destacando os aspectos que constituem a doutrina dos espíritos, acrescenta o Codificador:
"O Espiritismo é ao mesmo tempo uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática, ele consiste nas relações que se podem estabelecer com os Espíritos; como filosofia, ele compreende todas conseqüências morais que decorrem dessas relações" (Kardec [8])
Essa definição nos mostra que o alcance do Espiritismo é bem mais amplo do que podemos imaginar. Analisando com maior cuidado a seqüência de trabalhos seguida pelo Codificador, perceberemos que esta abrangência se justifica. Inicialmente, Kardec lançou mão da sonda da investigação para poder comprovar a veracidade dos fatos (ciência); em seguida, percebendo que poderia extrair conteúdo mais nobre daqueles fenômenos, formulou questões de elevado teor filosófico (filosofia); na seqüência, retomando as pesquisas científicas constatou que aquelas verdades, trazidas sob a coordenação dos espíritos superiores estavam entrelaçadas a conseqüências morais-religiosas para o Homem (religião).
A Doutrina Espírita vinha abalar os alicerces milenares do misticismo, da intolerância, da fé dogmática, do materialismo científico, e era preciso que sua autoridade tivesse apoio na verdade da revelação divina e nas provas dos fatos, a fim de que não pudesse ser honestamente contestada nos seus princípios básicos. (Barbosa [2])
Desta forma, a Doutrina Espírita precisa ser estudada e compreendida em seu tríplice aspecto, a fim de se evitar que ocorram distorções, comuns em todo corpo de conhecimento, visto que cada um de nós tendemos a interpretar as coisas da maneira que mais nos convém, mais nos agrada ou que nossas experiências pessoais permitem.
O ESPIRITISMO FILOSÓFICO
O Espiritismo é uma doutrina essencialmente filosófica. Analisando a natureza humana, algumas questões vêm atravessando séculos e civilizações :
- existe Deus ?
- de onde viemos ?
- para onde vamos ?
- por que estamos na Terra ?
- por que e para que tanta luta ?
- existe vida após a morte ?
- se existe, o homem é feliz ou infeliz após a morte ?
O aspecto filosófico do Espiritismo ocupa-se com a finalidade da vida e com a destinação da alma. Mostra-nos através de um racioínio lógico que fomos todos criados simples e ignorantes, ou seja, sem conhecimento e sem moral desenvolvida, e que através de vidas sucessivas caminhamos para a nossa destinação que é a felicidade.
"O objetivo da evolução, a razão de ser da vida, não é a felicidade terrestre, como muitos erradamente crêem, mas o aperfeiçoamento de cada um de nós, e esse aperfeiçoamento devemos realizá-lo por meio de trabalho, do esforço, de todas as alternativas da alegria e da dor, até que nós tenhamos desenvolvido completamente e elevado ao estado celeste" (Denis [4])
A medida que a alma se eleva, vai acumulando saber e virtude. A rapidez com que vamos adquirindo tal evolução, contudo, varia de espírito para espírito, desde que cada um utiliza o seu livre-arbítrio para traçar o seu próprio caminho.
O ESPIRITISMO CIENTÍFICO
Ocupa-se essencialmente com os fenômenos espíritas, isto é, os fenômenos produzidos por espíritos. É positivo e experimental como a ciência do mundo, mas não se perde hipóteses metafísicas, nem muito menos abandona a investigação pelo simples fato de os fenômenos não poderem ser repetidos a qualquer hora ou em qualquer lugar.
Observando e analisando os fenômenos mediúnicos e anímicos, o Espiritismo utiliza-se do método analítico ou indutivo. Seu objetivo de estudo é a existência do Espírito, a sua sobrevivência a morte física e a sua volta ao mundo material, fato esse denominado de reencarnação. Não descarta, porém, a influência da mente sobre o corpo e pondera que essa influência é perfeitamente possível depois que o espírito retorna ao mundo espiritual, desde que há um elemento de natureza intermediária entre os dois mundos. Descortina, então, o perispírito, o seu papel como mediador plástico entre o Espírito e o corpo físico.
"Revestimento temporário, imprescindível à encarnação e à reencarnação, é tanto mais denso ou sutil, quanto evoluído seja o Espírito que dela se utiliza. Também considerado como corpo astral, exterioriza-se através e além do envoltório carnal, irradiando-se como energia específica ou aura" (Ângelis [1])
A ciência espírita tem, portanto, a finalidade da comprovação, da consolidação da realidade do espírito. Atraiu sempre para as suas lides homens notáveis, compromissados apenas com a verdade.
"As grandes vozes dos Crookes, dos Wallaces, dos Zölners, proclamou que, do exame positivo dos fenômenos espíritas resulta claramente a convição de que a alma é imortal e que não só ela não morre, mas também pode manifestra-se aos humanos, por meio de leis ainda pouco conhecidas que regem a matéria imponderável" (Delanne [3])
"O Espiritismo e a Ciência se completam um pelo outro; a Ciência, sem o Espiritismo, se acha impossibilitada de explicar certos fenômenos, unicamente pelas leis da matéria; o Espiritismo, sem a a Ciência, ficaria sem apoio e exame." (Kardec [7])
O ESPIRITISMO RELIGIOSO
O aspecto religioso fundamenta-se em Jesus, conforme se lê na questão 625 de O Livro dos Espíritos :
625. Qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem para, lhe servir de guia e modelo ? "Jesus" (Kardec [6])
A idéia de religião está comumente ligada a uma organização sacerdotal, culto instituído, práticas rituais, dogmas e crendices. O Espiritismo "prega" a fé raciocinada, sem misticismos e segredos iniciáticos, na forma integral e consciente de conduta humana diante do criador (Barbosa [2]), tendo como lema "fora da caridade não há salvação."
Desta forma, o Espiritismo estimula o homem à pratica da bondade, da fraternidade, do altruismo, da humildade, do trabalho incessante em prol da felicidade do nosso próximo.
Com a Doutrina Espírita
"o Espírito voltou a ser conceituado e tido na sua legítima acepção, demonstrando, pela insofismável linguagem dos fatos, a realidade, em rigoroso apelo ao pensamento e à razão, no sentido de fazer ressurgir a ética religiosa do Cristianismo. Através desse renascimento cristão, opõe-se uma barreira ao materialismo e aponta-se ao que sofre o infinito horizonte do amanhã ditoso que espera após vencidas as dificuldades do momento, superadas as limitações, espírito que é, em marcha na direção da verdade" (Ângelis [1])
"O Espiritismo, longe de ser um adversário da religião, é uma poderosa alavanca para o erguimento desta em todas as consciências, pois não só a sua filosofia ricamente consoladora, como os fatos que vêm reforçar sua veracidade, o atesta exuberantemente, sem que até agora pudessem ter sido contestados." (LOURENÇO [5])
Allan Kardec, em discurso na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, afirmou, conforme a Revista Espírita de dezembro de 1868 :
"O Espiritismo é uma religião e nós nos ufanamos disso"
E na V parte da conclusão de O Livro dos Espíritos, afirma o mestre lionês :
"O Espiritismo é forte porque assenta sobre as próprias bases da religião: Deus, a alma, as penas e as recompensas futuras; sobretudo, porque mostra que essas penas e recompensas são corolários naturais da vida terrestre, e ainda, porque, no quadro que apresenta no futuro, nada há que a razão mais exigente possa recusar" (Kardec [6])
Grupo Berlinense de Estudos e Divulgação da Doutrina Espírita ("BSÖS")
Imagem fotolog: http://ranje.fotoblog.uol.com.br/
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- [1] ÂNGELIS, J., "Estudos Espíritas", psicog. Divaldo Pereira Franco, Ed. Feb, 4a. edição, 1987.
- [2] BARBOSA, P. F., "Espiritismo Básico", Ed. Feb, edição, 1986.
- [3] DELANNE, G., "O Fenômeno Espírita", Ed. Feb, 5a. edição, 1990.
- [4] DENIS, L., "O problema do ser, do destino e da dor", Ed. Feb, 17a. edição, 1993.
- [5] LOURENÇO, S., "Conceitos de Cairbar Schutel", Ed. O Clarim, 1a. edição, 1991.
- [6] KARDEC, A., "O Livro dos Espíritos", Ed. Feb, 66a. edição, 1987.
- [7] KARDEC, A., "A Gênese", Ed. Feb, 30a. edição, 1987.
- [8] KARDEC, A., "O que é o Espiritismo", Instituto de Difusão Espírita, 28a. edição, 1993.
- [9] PERALVA, M., "Estudando a mediunidade", 15ª edição, FEB, 1956.
Bom dia Marcia!
ResponderExcluirVim conhecer teu blog, sou católica mas respeito sua opinião, li alguns livros espíritas e achei muito interessante.
bjs
Adriana
Márcia,
ResponderExcluiro que tem acontecido atualmente é no que diz respeito ao Kardec Desconhecido. Parece-nos incrível que Kardec, hoje, seja menos estudado, dentro do Espiritismo. Com justificativas como Kardec está superado, outros autores são mais estudados.
Estreita visão espreita os que querem estudar esta doutrina de luz podendo perder toda a base de conhecimento que o KArdec nos trouxe.
É como querer entrar na faculdade sem antes estudar o básico.
Kardec é imprescindível para conhecermos de fato o Espiritismo, e um texto como este que postaste, nos tras melhores esperanças que o "Bom senos encarnado" continue vivo em nossos estudos.
Minha amiga da eternidade, continuemos a divulgar Kardec!!!
Com amor,
Jorge
Olá Adriana,
ResponderExcluirque bom que você tem interesse em conhecer outras doutrinas. Abrindo a mente é sempre mais fácil nos decidirmos.
Abracos e grata pela visita.
Você tem toda razao Jorge,
ResponderExcluiraliás bem oportuno o seu comentário, pois sei de grupos que se dedicam a estudar outras obras, antes mesmo de estudar a obra de Kardec.
Mas..., é o livre arbítrio, nao?
Beijos com muito carinho e sempre grata pela sua visita.
Olá,
ResponderExcluir“E viveram felizes para sempre?”
Um texto que nasceu de uma simples conversa presenciada no comboio.
Quero partilhá-lo com todos porque me parece uma reflexão que proporciona a discussão e o reparte de opiniões.
No entanto lanço um pequeno desafio a todos os que queiram participar.
Os detalhes encontram-se no http://sonhoemmim.blogspot.com/
Beijos
Saudações.
ResponderExcluirÉ interessante como a doutrina espírita, saindo da definição de Ciência e Filosofia, caiu no gosto do misticismo virando "coisa que parece" (aspecto). Parece ciência, parece filosofia e parece religião. O homem ainda não consegue se desvencilhar do "Pai, filho e espírito santo" e das outras tríades místicas. Quem sabe um dia, compreendendo que a moral espírita deriva da certeza na imortalidade (explícito no texto doutrinário), consiga melhorar o mundo tirando-o da estagnação piegas da idolatria.
Abraços
valeu adorei esses estudos ,
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